domingo, 22 de maio de 2011

Polêmica ou Ignorância?

DISCUSSÃO SOBRE LIVRO DIDÁTICO SÓ REVELA IGNORÂNCIA DA GRANDE IMPRENSA

Marcos Bagno (UNB)


Para surpresa de ninguém, a coisa se repetiu. A grande imprensa brasileira mais uma vez exibiu sua ampla e larga ignorância a respeito do que se faz hoje no mundo acadêmico e no universo da educação no campo do ensino de língua.

Jornalistas desinformados abrem um livro didático, leem metade de meia página e saem falando coisas que depõem sempre muito mais contra eles mesmos do que eles mesmos pensam (se é que pensam nisso, prepotentemente convencidos que são, quase todos, de que detêm o absoluto poder da informação).

Polêmica? Por que polêmica, meus senhores e minhas senhoras? Já faz mais de quinze anos que os livros didáticos de língua portuguesa disponíveis no mercado e avaliados e aprovados pelo Ministério da Educação abordam o tema da variação linguística e do seu tratamento em sala de aula. Não é coisa de petista, fiquem tranquilas senhoras comentaristas políticas da televisão brasileira e seus colegas explanadores do óbvio.

Já no governo FHC, sob a gestão do ministro Paulo Renato, os livros didáticos de português avaliados pelo MEC começavam a abordar os fenômenos da variação linguística, o caráter inevitavelmente heterogêneo de qualquer língua viva falada no mundo, a mudança irreprimível que transformou, tem transformado, transforma e transformará qualquer idioma usado por uma comunidade humana. Somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas “classes populares” poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito.

E, é claro, com a chegada ao magistério de docentes provenientes cada vez mais dessas mesmas “classes populares”, esses mesmos profissionais entenderão que seu modo de falar, e o de seus aprendizes, não é feio, nem errado, nem tosco, é apenas uma língua diferente daquela – devidamente fossilizada e conservada em formol – que a tradição normativa tenta preservar a ferro e fogo, principalmente nos últimos tempos, com a chegada aos novos meios de comunicação de pseudoespecialistas que, amparados em tecnologias inovadoras, tentam vender um peixe gramatiqueiro para lá de podre.

Enquanto não se reconhecer a especificidade do português brasileiro dentro do conjunto de línguas derivadas do português quinhentista transplantados para as colônias, enquanto não se reconhecer que o português brasileiro é uma língua em si, com gramática própria, diferente da do português europeu, teremos de conviver com essas situações no mínimo patéticas.

A principal característica dos discursos marcadamente ideologizados (sejam eles da direita ou da esquerda) é a impossibilidade de ver as coisas em perspectiva contínua, em redes complexas de elementos que se cruzam e entrecruzam, em ciclos constantes. Nesses discursos só existe o preto e branco, o masculino e o feminino, o mocinho e o bandido, o certo e o errado e por aí vai.

Darwin nunca disse em nenhum lugar de seus escritos que “o homem vem do macaco”. Ele disse, sim, que humanos e demais primatas deviam ter se originado de um ancestral comum. Mas essa visão mais sofisticada não interessava ao fundamentalismo religioso que precisava de um lema distorcido como “o homem vem do macaco” para empreender sua campanha obscurantista, que permanece em voga até hoje (inclusive no discurso da candidata azul disfarçada de verde à presidência da República no ano passado).

Da mesma forma, nenhum linguista sério, brasileiro ou estrangeiro, jamais disse ou escreveu que os estudantes usuários de variedades linguísticas mais distantes das normas urbanas de prestígio deveriam permanecer ali, fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua língua. O que esses profissionais vêm tentando fazer as pessoas entenderem é que defender uma coisa não significa automaticamente combater a outra.

Defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e aos discursos que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, mas é preciso repetir isso a todo momento.

Não é preciso ensinar nenhum brasileiro a dizer “isso é para mim tomar?”, porque essa regra gramatical (sim, caros leigos, é uma regra gramatical) já faz parte da língua materna de 99% dos nossos compatriotas.

O que é preciso ensinar é a forma “isso é para eu tomar?”, porque ela não faz parte da gramática da maioria dos falantes de português brasileiro, mas por ainda servir de arame farpado entre os que falam “certo” e os que falam “errado”, é dever da escola apresentar essa outra regra aos alunos, de modo que eles – se julgarem pertinente, adequado e necessário – possam vir a usá-la TAMBÉM.

O problema da ideologia purista é esse também. Seus defensores não conseguem admitir que tanto faz dizer assisti o filme quanto assiti ao filme, que a palavra óculos pode ser usada tanto no singular (o óculos, como dizem 101% dos brasileiros) quanto no plural (os óculos, como dizem dois ou três gatos pingados).

O mais divertido (para mim, pelo menos, talvez por um pouco de masoquismo) é ver os mesmos defensores da suposta “língua certa”, no exato momento em que a defendem, empregar regras linguísticas que a tradição normativa que eles acham que defendem rejeitaria imediatamente.

Pois ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: “Como é que fica então as concordâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: “E as concordâncias, como é que ficam então?


http://marcosbagno.com.br/site/?page_id=745

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A banda de música da UDN está de volta

O texto de Silvio Tendler vai ao encontro do que este PadariaPost entende do bombardeio de que tem sido vítima a ministra Ana de Hollanda, do MinC. Até prova em contrário, continuaremos, como Tendler, a apoiar seu trabalho naquele ministério.

Não sabemos ainda o que move a tentativa de derrubá-la: se séria, apoiada em fatos concretos, ou movida tão somente por interesses subalternos contrariados. Na dúvida, como no Direito, pró ministra Ana de Hollanda.


Por Silvio Tendler*

Imagino a Ministra Ana de Hollanda em uma caminhada solitária. A vejo tendo na memória a figuraça do pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, um dos estudiosos que mais conheceu o Brasil. Ana era seu xodó e nesse momento de extrema solidão no poder deve lembrar-se muito dos ensinamentos do pai. Ana é mulher de fibra e coragem e vai seguir em frente em sua luta para cumprir a missão que lhe foi designada por outra mulher de fibra e coragem, a Presidente Dilma Rousseff. Ana não é de desistir no meio da caminhada, logo agora que começa a descobrir as primeiras traições e jogos de interesse pessoais. tão perto de si, do seu gabinete, dentro do Ministério que comanda. Ana já deve ter percebido olhares e sorrisos matreiros que conspiram enquanto afagam.

Muita espuma se faz contra Ana de Hollanda que está fazendo um trabalho realmente sério a frente de um dos Ministérios mais complicados de administrar. Já ocupei o cargo de Secretário de Cultura de Brasília durante a administração Cristovam Buarque de Hollanda e sei o quanto é difícil administrar artistas e seus egos. E Ana está apagando incêndios, a frente de uma gestão herdeira de uma dívida de mais de 600 milhões de reais e em face a um contigenciamento de verbas que tolhe as ações do Ministério.

A briga em torno do tal do Creative Commons é assunto de lobista. Os creative Commons não oferecem nada mais que os copyrights e quem ganha com essa briga são advogados e seus contratatos milionários. Quando se trata de copyright X copyleft aí a coisa muda de figura pois discutimos direitos versus liberação total. Os mecanismos de liberação parcial de direitos oferecidos pelo Creative Commons também existem no Copyright na medida em que o autor faz o que bem quiser com sua obra. tudo não passa de demagogia para vender balangandãs para indios colonizados. Basta colocar na documentação do ministério “livre para reprodução desde que citada a fonte” e ponto, menos um problema para resolver.

Em cinema a Ministra tem acertado e nossa relação hoje com a ANCINE melhorou muito com a chegada da Ana De Hollanda. Falta nas outras áreas uma agenda positiva e propositiva que coloque a estrutura do Ministério em marcha. Os Secretários que se manifestem e apresentem seus programas de ação já!,

Quem foi o gênio que aconselhou a ministra a receber diárias desnecessárias enquanto permanecia o final de semana no Rio de janeiro, em sua casa, aguardando o trabalho na segunda feira? Isso não é assunto para Ministro. Quem aconselhou ao êrro deveria apresentar-se como o responsável pela bobagem que fragilizou a ministra. Continuo solidário a Ministra e tenho certeza que ela superará essa crise.

Nota: A frase que marquei em negrito me fez lembrar de quando entrevistei Affonso Romano de Sant’Anna, que presidiu a Biblioteca Nacional, e ele me disse: “O mundo das artes todo mundo pensa que é um lugar de pessoas líricas, bem-intencionadas… E é um pega pra capar o tempo todo! É uma ciumada, uma inveja, é um derrubar o outro…”


*Silvio Tendler é cineasta.

Fonte: http://www.mariliaguimaraes.com/2011/05/banda-de-musica-da-udn-esta-de-volta.html


terça-feira, 10 de maio de 2011

A banalização do bullying

Bullying não é nada disso

Rosely Sayão


Além de banalizar o conceito, o que mais conseguimos ao abusar desse termo? Alarmar os pais.

Há muita gente que não aguenta mais ouvir falar de bullying. O assunto é tema de reportagens nos jornais diários de todos os tipos, nas revistas semanais, nas prateleiras das livrarias, nas bancas de revistas, na internet etc.

Já conseguimos esvaziar o sentido dessa palavra e seu conceito de tanto que a usamos e de tanto fazer associações indevidas com o termo.

Basta um pequeno drama ou uma grande tragédia acontecer, envolvendo jovens, que não demora a aparecer a palavra mágica. Agora, ela serve para quase tudo.

Além de banalizar o conceito, o que mais conseguimos com o abuso que temos feito dele? Alarmar os pais com filhos de todas as idades.

Agora, a preocupação número um deles é evitar que o filho sofra o tal bullying. O filho de quatro anos chega em casa com marca de mordida de um colega? Os pais já pensam em bullying. A filha reclama de uma colega dizendo que sempre tem de ceder seu brinquedo, ou o filho diz que tem medo de apanhar de um colega de classe? Os pais pensam a mesma coisa.

Alguns deram, por exemplo, de reclamar que a escola que o filho frequenta tem, no mesmo espaço, estudantes de todas as idades e dos vários ciclos escolares.

Então agora vamos passar a considerar perniciosa a convivência entre os mais jovens porque há diferença de idade entre eles? Decididamente, isso não é uma boa coisa.

As crianças e os jovens aprendem muito, muito mesmo, com o convívio com seus pares mais novos e mais velhos. Ter acesso a alguns segredos da vida adulta pelas palavras de outra criança ou de um adolescente, por exemplo, é muito mais sadio e interessante do que por um adulto. Um exemplo? A sexualidade.

Outro dia ouvi um diálogo maravilhoso entre uma criança de uns dez anos e um adolescente de quase 16. O assunto era namoro. Em um grupo, os mais velhos comentavam suas façanhas beijoqueiras com garotas. A criança ""pelo que entendi, ele era irmão de um dos mais velhos"" passou a participar da conversa querendo saber detalhes do que ele chamou de beijo de língua e ameaçou começar a também contar suas vantagens.

Logo a turma adolescente reagiu, e um deles falou que ele era muito criança para entrar no assunto. E um outro disse, sem mais nem menos: "Agora você está na idade de ouvir essas coisas e não de fazer, está entendido?". O menor calou-se e ficou prestando a maior atenção à conversa dos maiores, sem intervir.

Imaginei a cena se tivesse acontecido com o garoto de dez anos e adultos. Não seria nada difícil que eles dessem atenção ao menino, que quisessem saber e fornecer detalhes a respeito das intimidades que podem acontecer num encontro entre duas pessoas. Muito melhor assim do jeito que foi, não é verdade? Com a maior simplicidade, o garoto foi colocado em seu lugar de criança e nem se importou com isso, mas, mesmo assim, pôde participar como observador da conversa dos mais velhos.

Conflitos, pequenas brigas, disputas constantes acontecem entre crianças e jovens? Claro. Sempre aconteceram e sempre acontecerão.

Mas esses fatos, na proporção em que costumam acontecer, não podem ser nomeados como bullying. Fazer isso é banalizar o tema, que é sério. Aliás, isso tudo acontece sem ultrapassar os limites das relações civilizadas se há adultos por perto. Essa é nossa questão de sempre, por falar nisso.

O verdadeiro bullying só acontece em situações em que os mais novos se encontram por conta própria, sem a companhia e a tutela de adultos, sem ainda ter condições para tal.

Caro leitor: se você tem filhos, não os prive da companhia de colegas diferentes no comportamento, na idade etc.

Esses relacionamentos, mesmo conflituosos, são verdadeiras lições de vida para eles que, assim, aprendem a criar mecanismos de defesa, a avaliar riscos e, principalmente, a reconhecer as situações em que precisam pedir ajuda.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Bin Laden: a manchete que faltou...

Depois do carnaval todo em torno da morte de bin Laden, registre-se aqui a manchete que faltou no noticiário, inspirada no padrão boca-de-esgoto da revista Veja:

PREMIO NOBEL DA PAZ ASSASSINA IDOSO DOENTE E DESARMADO

Felizes para sempre

HÉLIO SCHWARTSMAN


Por 10 votos a 0, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu que a figura da união estável vale também para casais homossexuais. Já não era sem tempo.

O que dois ou mais adultos fazem consensualmente entre quatro paredes em matéria de sexo é assunto que diz respeito apenas a eles.

Desde que em comum acordo e sem envolver menores, não há nada de intrinsecamente errado com homossexualismo, masoquismo, sadismo, fetichismo, coprofilia, zoofilia (se o animal em questão não se opuser) e nem mesmo com a vida monástica. Se há um comportamento reprovável do ponto de vista da boa convivência social, ele está não no homossexualismo ou no que a psiquiatria chama de parafilias, mas no desejo incontido de controlar a sexualidade alheia.

E, se é justo que casais heterossexuais possam herdar os bens um do outro, estabelecer vínculos previdenciários e adotar crianças, não há nenhuma razão para deixar de estender esses mesmos direitos a pares do mesmo sexo. Um cidadão é um cidadão independentemente de seus hábitos copulativos.

É pouco provável, porém, que a decisão do pretório excelso ponha fim às guerras culturais em torno do tema. A razão é simples: o julgamento tem como objeto apenas as uniões civis, deixando de fora o casamento propriamente dito.

Tenho, porém, uma modesta sugestão para solucionar de vez o problema. No rastro de Richard Thaler e Cass Sunstein, autores de "Nudge - O Empurrão para a Escolha Certa", proponho que o Estado caia fora do ramo de casamentos e passe a reconhecer apenas uniões estáveis. Elas dão conta de tudo o que importa para a vida civil. E que cada igreja ou associação celebre o casamento da forma que bem entender.

Os católicos, por exemplo, poderão continuar a oferecê-lo só a pares heterossexuais e em caráter indissolúvel, enquanto a ABGLT poderá instituir suas próprias regras. E todos vivem felizes para sempre.


Postado por conteudo livre 08/05/2011 Folha de São Paulo

sábado, 7 de maio de 2011

A decisão exemplar do STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) sincronizou o Brasil com o século 21. Ao reconhecer por unanimidade a união estável entre homossexuais, a qual passa assim a ter status legal de família - como o casamento civil, a união entre um homem e uma mulher e a mãe solteira que vive com os filhos -, a Corte fez mais do que prover a igualdade jurídica que a Constituição assegura a todos os brasileiros. E que se sobrepõe, como fundamento do Estado Democrático de Direito, à definição, menos ou mais restrita, porém sujeita a mudanças, do conceito de família. O que a decisão tem de especialmente louvável é a sua contribuição para o avanço do processo civilizatório no País.

Na atualidade, o grau de amadurecimento das sociedades nacionais se mede crescentemente pela legitimação da diversidade entre os seus membros. Segue-se cada vez mais ao pé da letra o princípio, ou o valor, segundo o qual as pessoas são livres para, nos limites da ordem jurídica, levar suas vidas como bem entenderem, desde que as suas escolhas não firam o interesse comum e os direitos de outros indivíduos. Obedecidos esses critérios, todos ganham e ninguém perde, como bem observou, no caso da chamada união homoafetiva, o ministro Carlos Ayres Britto, relator das vitoriosas ações impetradas, separadamente, pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e pela vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat.

"Não se pode alegar", afirmou, "que os heteroafetivos perdem se os homoafetivos ganham." A rigor, ganha o País, à medida que a equiparação expande, no plano institucional, o espaço à tolerância, ajudando a disseminar a aceitação das diferenças e o respeito pelas minorias. Tampouco se pode alegar que a Justiça está "institucionalizando a destruição da família", como reagiu um clérigo. Eles diziam exatamente isso em 1977, quando o Congresso aprovou o divórcio. Não consta que a família tenha sido destruída: aliás, o que também querem os homossexuais é formar a deles com os direitos a ela associados: pensão, herança, adoção de filhos, plano de saúde - em suma, a estabilidade jurídica de que desfrutam os parceiros de uma "convivência pública, contínua e duradoura", como prevê a lei.

O Brasil vem de uma campanha presidencial sequestrada pela ostentação religiosa dos principais candidatos, cada qual procurando se mostrar mais identificado do que o outro com a visão ortodoxa das confissões cristãs sobre a questão do aborto. Era como se a proclamada adesão a uma forma particular de conceituar o termo "valores familiares" fosse indispensável para credenciar o candidato a exercer a Presidência da República - em um país, por sinal, cuja Constituição consagra o caráter laico do Estado. Foi um retrocesso para a cultura política brasileira, que não honrou as biografias nem do derrotado José Serra nem da vencedora Dilma Rousseff.

O contraste disso com a exemplar votação do Supremo - cujos membros, ao que se saiba, têm todos religião - equivale à proverbial passagem da noite para o dia. Ademais, a Corte tomou a si, quando provocada, uma incumbência que, pela ordem natural das coisas, cabia ao Congresso Nacional. Os políticos se acovardaram diante da demanda de uma parcela da população. Uns, por serem contrários a ela. Outros, indiferentes ou mesmo favoráveis, mas não engajados, para não comprar briga com aqueles, estando a grande maioria de ambos os lados no mesmo confortável barco governista. A omissão do Congresso mostra ainda uma vez a sua distância em relação às questões da vida real dos brasileiros e seu desinteresse em criar direitos - salvo em benefício próprio ou dos seus patronos.

E os parlamentares ainda se queixam de que o órgão máximo do Judiciário se apropria de suas atribuições, quando, na verdade, zela pelo cumprimento da Constituição, como a interpretam os seus integrantes. Veio do ministro Gilmar Mendes a resposta apropriada. "Não seria extravagante, diante das acusações de ativismo judicial, dizer-se que melhor saberia o Congresso encaminhar esse tema, como têm feito muitos Parlamentos no mundo todo", opinou. "Mas é verdade que o quadro que se tem é de inércia, de não decisão por razões políticas diversas."

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110507/not_imp715979,0.php Via Conteúdo Livre