quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Para emoldurar

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"Graça Lago, filha de Mario Lago


CARTA ABERTA AO PRESIDENTE LULA

Antes de qualquer bom dia, boa tarde ou boa noite, digo logo: Não está fácil, querido companheiro. 

Nos conhecemos lá nos idos de 1980 (Marcelo Auler sabe melhor), nosso partido em formação, dificuldades por todos os lados, ataques generalizados. Estávamos lá, eu de mera militante.

Nesses 40 anos, mudamos muito. Não vou falar de mim, mas de você. De líder sindical, passou a um dos principais líderes mundiais, o maior do país, sem dúvida. Passou por diversas eleições, foi Constituinte, presidente da República duas vezes, tirou o país do mapa da fome, incluiu pobres, negros, mulheres e todas as minorias na pauta e no orçamento brasileiros. 

Sim, também cedeu ao capital, ao agronegócio, à banca. Era de se esperar, nunca tivemos maioria, nunca fomos um governo puro-sangue, nunca fizemos uma revolução. Desde o primeiro mandato, foi preciso construir frentes, fazer concessões. Mas havia um compromisso e poucos largaram as mãos.

Elegemos Dilma, e parece que foi a gota d’água. As forças reacionárias não suportaram e a trama cresceu e veio a se consolidar no segundo mandato da presidenta, que nem pode dar os primeiros passos. Veio a mentira da pedalada e a derrubou. Golpe.

Você, que já tinha enfrentado uma barra pra lá de pesada, passou a sofrer a maior e mais cruel perseguição político-judicial-midiática já vista (nunca antes na História do nosso país); perdeu mulher, neto, irmão e a liberdade. Foi achincalhado, xingado, tentaram humilhá-lo, isolá-lo. 

Acompanhei de longe e, confesso, não sei se teria aguentado. Não sei se não teria jogado tudo pro alto, mandado tudo à merda. Mas você, já naquela altura com os cabelos brancos, você, em nenhum momento, abaixou a cabeça, em nenhum momento jogou baixo. Alguns largaram a sua mão, você continuou andando.  E ainda encontrou uma brecha pra se apaixonar e refazer a vida.

8 de novembro de 2019, jamais vou esquecer o momento da sua libertação, uma explosão de força, alegria e ânimo, em meio ao pântano do bolsonarismo que inundava o país.

Voltou cheio de gás, mais uma vez disposto a juntar todas as pontas e soldar diferentes e inúmeras partes em um escudo-mosaico capaz de brecar o fascismo, que corroia e corrompia boa parte do país. 

E você foi capaz de costurar essa aliança ampla o suficiente para derrotar o candidato fascista, com os seus bônus (a derrota do capetão) e ônus (as concessões). Só que a serpente do fascismo continuou lá - fez maioria em um dos Congressos mais hostis da História e se entranhou em várias frentes, incluindo órgãos de governo. Mais alianças para rebater os nefastos.

E você na batalha, articulando, negociando, equilibrando, jogando um xadrez muitas vezes improvável, escapando das inúmeras cascas de banana, escorregando em umas poucas, travando tenazes quedas-de-braço (embora, muitas vezes, sorridentes – as quedas), mergulhando, nadando e escapando dos “caldos”, incluindo um presidente de Banco Central descaradamente bolsonarista.

Hoje, meu camarada, fico muito indignada quando reclamam dessas mesmas alianças (que jamais foram secretas), quando fingem desconhecer os avanços conquistados a duras penas nesses dois anos do seu terceiro mandato – e vou me ater ao crescimento econômico, ao aumento real do salário-mínimo, ao fim da fome endêmica, à queda histórica no desemprego.  Será que esquecem como estava o país em 2022, será que esquecem que não fizemos uma revolução?

Fico muito puta (se me permite) quando insinuam que você pode estar cansado por conta da idade; nenhum dos que apontam esses dedos lacaios têm um décimo do seu fôlego; queria ver se aguentavam a artilharia implacável que você enfrenta. 

Sim, mudamos todos ao longo desses 40 anos – você, eu, o país e, principalmente, a senhora conjuntura; e faria bem que as análises olhassem com cuidado os cenários (detesto a palavra, mas não achei outra) antes de lançarem pérolas aos porcos, antes de alimentarem a sempre ávida extrema-direita. 

Desculpe a longa missiva, presidente, mas eu precisava desabafar.

Mudamos, sim, mas continuamos aqui."

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Resumo da ópera: 

Quem sabe - e quer - faz o máximo enfrentando todas as dificuldades.

Quem não sabe e não tem disposição nem coragem para enfrentar a realidade, continua fazendo sua "revolução" no sofá. A extrema direita adora...

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Grande Graça Lago, lavou nossa alma, falou por nós. 👏🏽👏🏽👏🏽

Luiz Inácio vai ler com atenção.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Ainda Estou Aqui

"AINDA ESTOU AQUI passa dos dois milhões de expectadores”


Quando um filme aponta seu foco na direção certa, não utiliza qualquer firula para agradar a plateia e acaba favorecido pelo momento político, momento político esse que coloca os herdeiros dos facínoras da ditadura militar na linha de tiro do Supremo, podemos celebrar com alegria a acolhida do público, muitas vezes com calorosos e emocionados aplausos ao final das sessões.

Um filme com carpintaria primorosa, sem concessões, quase asséptico em alguns momentos, mas que tratou de um drama da classe média, a classe média não habituada com a violência do Estado.

Tenho para mim que esse sucesso de bilheteria passa muito pela presença em massa dessa classe média que hoje se reconhece, também, como partícipe e vítima do combate aos crimes dos chamados anos de chumbo. De registrar a descoberta, pelo majoritário público jovem, da memória daqueles fatos sempre sonegados.

Vi o filme como sempre vi  as obras sobre a ditadura militar: com o máximo de distanciamento, necessário para me poupar emocionalmente. Fico sempre com a sensação de não ter feito o suficiente para evitar o que temos vivido nos últimos anos. É uma dívida que carrego comigo.

Porém — e sempre há um porém —, quando Eunice Paiva, no final, numa cadeira de rodas, olhos perdidos pelo Alzheimer, vê na TV um documentário falando das vítimas da ditadura, entre elas seu querido Rubens, seu olhar se ilumina — síntese do filme —, num lampejo de que toda a sua luta havia valido a pena.

Nesse momento, eu baqueei...


cid cancer

nov/24


sábado, 3 de agosto de 2013

Saída para a frente

Este texto foi escrito em agosto/2005, há oito anos, em pleno alvoroço do "mensalão do Jefferson". Embora datado, lido agora em perspectiva é de uma atualidade que chega a surpreender, e a incomodar. Menos pelos 'dons' do autor das mal traçadas, mais, muito mais pela permanência dos impasses mascarados à época em nome do inimigo comum.
Hoje, a realidade cobra seu preço: a acomodação política do partido vencedor das três últimas eleições, garantia e suporte dos governos Lula/Dilma, é prisioneiro do pragmatismo que sempre condenou nos adversários. Perdeu o ímpeto transformador que alimentou as esperanças de largos setores da sociedade. Parece vencido pelo movimento da História, que não para. Mas seus feitos, inegáveis, e sua herança, preciosa, não podem ser perdidos. O momento exige um passo à frente na prática política. Como há oito anos.

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Há males que vêm para bem. Essa inana a que somos submetidos diariamente traz consigo a emergência de novos paradigmas. De se caminhar por outras veredas. O institucional não basta.

Não se veja aqui a nostalgia de um mundo que já não há: o tempo não para. Vivemos a prevalência planetária do “mercado” sobre a política. O poder de fato é o dos parasitas do sistema financeiro; a bolsa ou a ... Bolsa! Ficamos reduzidos à formalidade democrática de parlamentos fadados a carimbos oficiais, espelhos que desvelam nossas mazelas.

Do “propinão da reeleição”, em 1998, ao “mensalão” de nossos dias. Da compra dos votos que garantiram mais quatro anos no poleiro ao amadorismo das maiorias a qualquer preço. Da sanha desvairada dos conservadores ao démodé aparelhamento do Estado. Do gângster histriônico ao “pragmático” comissário-geral.

Como na parábola, é ingenuidade ignorar a natureza das coisas: o sapo (sem ironia) acabará sempre picado pelo escorpião das concepções dominantes da cultura oligárquica. Acordos não-programáticos afrontam a prática republicana de firmar os direitos da cidadania. Provocam a perplexidade dos sonhos devastados e das ilusões perdidas.

Que não se reduza tudo à fraqueza humana. A corrupção não é apenas um delito pessoal. É um crime político, em que a coisa pública é privatizada em detrimento da maioria. Ser honesto não é mérito, muito menos plataforma política. Honestos, de direita ou esquerda, continuam de direita e de esquerda. A diferença estará sempre nas prioridades, na visão do mundo, no que se quer e para quem se quer.

Qual a saída, então? Em Mogi, os moradores do Taboão parecem indicar uma delas. Entendem a construção de um aterro sanitário como ameaça ao distrito e tentam impedi-la. Desamparados pelo poder público, coletam assinaturas para projeto de lei de iniciativa popular proibindo que a cidade receba o lixo de fora. Pela Lei Orgânica são necessárias 12 mil – 5% do eleitorado. Como a Constituição Federal e a Estadual prevêem apenas 1%, nosso índice pode – e deve – ser equiparado ao da Lei Maior. Um por cento – 2.400 eleitores – facilitaria e estimularia a ação da sociedade organizada na discussão de temas comuns.

O caminho mais curto será convencer a Câmara Municipal a aprovar essa proposta. Não será fácil argumentar contra a redução. Quem se opuser carregará o estigma de ter dificultado a participação popular nas decisões de interesse da cidade.


cid cancercoordenador do Será o benedito? ações socioculturais e ambientais 
Mogi News – 27.08.2005




sexta-feira, 19 de julho de 2013

Pesquisa: farisaísmo e corrupção cotidiana do brasileiro

Em 05/11/2012, o sítio 'Consultor Jurídico (www.conjur.com.br) publicou esta pesquisa sobre a corrupção cotidiana do brasileiro, com base em informações da BBC Brasil.

Coincidentemente, também num 05 de novembro, mas de 2005, publiquei na coluna 'Tribuna' do jornal 'MogiNews', de Mogi das Cruzes, um pequeno texto sobre essa mesma prática do brasileiro, com foco na cidade, reproduzido logo abaixo desta matéria. 

Vira e mexe, e voltamos sempre ao ponto: o farisaísmo indignado dos que julgam 'corrupção' apenas a do outro, em especial, a do setor público.
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Pesquisa mostra 10 práticas de corrupção do brasileiro


Quase um em cada quatro brasileiros (23%) afirma que dar dinheiro a um guarda para evitar uma multa não chega a ser um ato corrupto, de acordo com uma pesquisa feita pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e o Instituto Vox Populi. Os números refletem o quanto atitudes ilícitas, de tão enraizadas em parte da sociedade brasileira, acabam sendo encarados como parte do cotidiano. As informações são da BBC Brasil.
"Muitas pessoas não enxergam o desvio privado como corrupção. Só levam em conta a corrupção no ambiente público", diz o promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira. Ele é coordenador nacional da campanha do Ministério Público. Como lida diariamente com o assunto, Moreira ajudou a BBC Brasil a elaborar uma lista de dez atitudes que os brasileiros costumam tomar e que, por vezes, nem percebem que se trata de corrupção. Veja quais são elas:
- Não dar nota fiscal

- Não declarar Imposto de Renda
- Tentar subornar o guarda para evitar multas
- Falsificar carteirinha de estudante
- Dar/aceitar troco errado
- Roubar TV a cabo
- Furar fila
- Comprar produtos falsificados
- No trabalho, bater ponto pelo colega
- Falsificar assinaturas

"Aceitar essas pequenas corrupções legitima aceitar grandes corrupções", afirma o promotor. "Seguindo esse raciocínio, seria algo como um menino que hoje não vê problema em colar na prova ser mais propenso a, mais pra frente, subornar um guarda sem achar que isso é corrupção", diz.
Segundo a pesquisa da UFMG, 35% dos entrevistados dizem que algumas coisas podem ser um pouco erradas, mas não corruptas, como sonegar impostos quando a taxa é cara demais.
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A corrupção cotidiana


A leitura apressada dos jornais e revistas pode sugerir que a corrupção foi inventada a partir das eleições de 2002. Os mais atentos, porém, sabem que isso vem de longe, desde o Império, e permeia a história política e econômica brasileira.

A construção de Brasília foi “aquela” farra-do-boi. Na época de Sarney tivemos o verdadeiro homem-da-mala-preta, hoje vestal da moralidade querendo acabar com “aquela raça”. Em 1997, a compra dos votos que garantiram a emenda da reeleição. Além do periódico perdão das dívidas dos ruralistas.

Mas a campeã – que a História haverá de demonstrar – foi a mágica da privataria, em que parte do patrimônio público foi torrado sob o pretexto do equilíbrio das contas nacionais. A evaporação dos 104 bilhões de dólares arrecadados provocou a triplicação da dívida externa, além da quebra do país. Não satisfeitos, querem agora voltar para liquidar o que sobrou.

Entretanto, se esses fatos provocam a indignação da sociedade – catarse das frustrações do dia a dia –, o mesmo não acontece com as mazelas do cotidiano, essa corrupção no varejo, quase “normal”. Não se considere aqui os estacionamentos em fila dupla ou em locais proibidos, “só por um minutinho”, nem a fila do banco furada pelos “clientes preferenciais”. Essas pequenas patifarias apenas refletem a mentalidade dominante de se “levar vantagem em tudo”. Certo?

Trata-se aqui da corrupção miúda, permanente, que, somada ao final de um ano, coloca no bolso (epa!) qualquer mensalão. Por exemplo, essa “sugestão” das autoescolas, denunciada novamente por este Mogi News. Sim, há três anos eram R$30,00 para “apressar a papelada”; agora, R$250,00 para “passar” no exame de direção, o que envolveria a Ciretran. Quantos exames são feitos por ano em Mogi, com seus quase 400 mil habitantes? E no Brasil, quase 200 milhões? Já calcularam a grana que rola? E só em carteiras de habilitação; imagine o resto.

Facilidades. Se há quem venda é porque há quem compre, e nisso todos se igualam. Há exceções, entretanto: o empreiteiro Adevair Ferreira, mesmo reprovado em dois exames, não se submeteu à “sugestão” dos R$250,00 e botou a boca no trombone. Um exemplo de coragem cidadã e de resistência ao império da malandragem.

Falando francamente: cada um de nós tem recusado as “sugestões” cotidianas, marca registrada da esperteza e da anticidadania? Que o exemplo de Adevair frutifique, pois sem a negação diária do “jeitinho”, esta continuará sendo – deitada eternamente – uma nação de segunda classe. E de cidadãos idem.

Cid Cancer – (05/11/2005)






quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sionistas na Av. Paulista em defesa da guerra

Com o discurso da defesa da paz, manifestantes desfilam na Av. Paulista, em São Paulo, defendendo a ação genocida do governo sionista de Israel na Faixa de Gaza contra a população palestina. 

Note o cartaz à esquerda, que diz claramente: HAMAS QUER GUERRA. É muito conveniente se fazer de eterna vítima, o velho álibi que a tudo justifica.

Foto enviada por um amigo que prefere o anonimato