sábado, 3 de agosto de 2013

Saída para a frente

Este texto foi escrito em agosto/2005, há oito anos, em pleno alvoroço do "mensalão do Jefferson". Embora datado, lido agora em perspectiva é de uma atualidade que chega a surpreender, e a incomodar. Menos pelos 'dons' do autor das mal traçadas, mais, muito mais pela permanência dos impasses mascarados à época em nome do inimigo comum.
Hoje, a realidade cobra seu preço: a acomodação política do partido vencedor das três últimas eleições, garantia e suporte dos governos Lula/Dilma, é prisioneiro do pragmatismo que sempre condenou nos adversários. Perdeu o ímpeto transformador que alimentou as esperanças de largos setores da sociedade. Parece vencido pelo movimento da História, que não para. Mas seus feitos, inegáveis, e sua herança, preciosa, não podem ser perdidos. O momento exige um passo à frente na prática política. Como há oito anos.

----------------------------------------------------------------

Há males que vêm para bem. Essa inana a que somos submetidos diariamente traz consigo a emergência de novos paradigmas. De se caminhar por outras veredas. O institucional não basta.

Não se veja aqui a nostalgia de um mundo que já não há: o tempo não para. Vivemos a prevalência planetária do “mercado” sobre a política. O poder de fato é o dos parasitas do sistema financeiro; a bolsa ou a ... Bolsa! Ficamos reduzidos à formalidade democrática de parlamentos fadados a carimbos oficiais, espelhos que desvelam nossas mazelas.

Do “propinão da reeleição”, em 1998, ao “mensalão” de nossos dias. Da compra dos votos que garantiram mais quatro anos no poleiro ao amadorismo das maiorias a qualquer preço. Da sanha desvairada dos conservadores ao démodé aparelhamento do Estado. Do gângster histriônico ao “pragmático” comissário-geral.

Como na parábola, é ingenuidade ignorar a natureza das coisas: o sapo (sem ironia) acabará sempre picado pelo escorpião das concepções dominantes da cultura oligárquica. Acordos não-programáticos afrontam a prática republicana de firmar os direitos da cidadania. Provocam a perplexidade dos sonhos devastados e das ilusões perdidas.

Que não se reduza tudo à fraqueza humana. A corrupção não é apenas um delito pessoal. É um crime político, em que a coisa pública é privatizada em detrimento da maioria. Ser honesto não é mérito, muito menos plataforma política. Honestos, de direita ou esquerda, continuam de direita e de esquerda. A diferença estará sempre nas prioridades, na visão do mundo, no que se quer e para quem se quer.

Qual a saída, então? Em Mogi, os moradores do Taboão parecem indicar uma delas. Entendem a construção de um aterro sanitário como ameaça ao distrito e tentam impedi-la. Desamparados pelo poder público, coletam assinaturas para projeto de lei de iniciativa popular proibindo que a cidade receba o lixo de fora. Pela Lei Orgânica são necessárias 12 mil – 5% do eleitorado. Como a Constituição Federal e a Estadual prevêem apenas 1%, nosso índice pode – e deve – ser equiparado ao da Lei Maior. Um por cento – 2.400 eleitores – facilitaria e estimularia a ação da sociedade organizada na discussão de temas comuns.

O caminho mais curto será convencer a Câmara Municipal a aprovar essa proposta. Não será fácil argumentar contra a redução. Quem se opuser carregará o estigma de ter dificultado a participação popular nas decisões de interesse da cidade.


cid cancercoordenador do Será o benedito? ações socioculturais e ambientais 
Mogi News – 27.08.2005




sexta-feira, 19 de julho de 2013

Pesquisa: farisaísmo e corrupção cotidiana do brasileiro

Em 05/11/2012, o sítio 'Consultor Jurídico (www.conjur.com.br) publicou esta pesquisa sobre a corrupção cotidiana do brasileiro, com base em informações da BBC Brasil.

Coincidentemente, também num 05 de novembro, mas de 2005, publiquei na coluna 'Tribuna' do jornal 'MogiNews', de Mogi das Cruzes, um pequeno texto sobre essa mesma prática do brasileiro, com foco na cidade, reproduzido logo abaixo desta matéria. 

Vira e mexe, e voltamos sempre ao ponto: o farisaísmo indignado dos que julgam 'corrupção' apenas a do outro, em especial, a do setor público.
----------------

Pesquisa mostra 10 práticas de corrupção do brasileiro


Quase um em cada quatro brasileiros (23%) afirma que dar dinheiro a um guarda para evitar uma multa não chega a ser um ato corrupto, de acordo com uma pesquisa feita pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e o Instituto Vox Populi. Os números refletem o quanto atitudes ilícitas, de tão enraizadas em parte da sociedade brasileira, acabam sendo encarados como parte do cotidiano. As informações são da BBC Brasil.
"Muitas pessoas não enxergam o desvio privado como corrupção. Só levam em conta a corrupção no ambiente público", diz o promotor de Justiça Jairo Cruz Moreira. Ele é coordenador nacional da campanha do Ministério Público. Como lida diariamente com o assunto, Moreira ajudou a BBC Brasil a elaborar uma lista de dez atitudes que os brasileiros costumam tomar e que, por vezes, nem percebem que se trata de corrupção. Veja quais são elas:
- Não dar nota fiscal

- Não declarar Imposto de Renda
- Tentar subornar o guarda para evitar multas
- Falsificar carteirinha de estudante
- Dar/aceitar troco errado
- Roubar TV a cabo
- Furar fila
- Comprar produtos falsificados
- No trabalho, bater ponto pelo colega
- Falsificar assinaturas

"Aceitar essas pequenas corrupções legitima aceitar grandes corrupções", afirma o promotor. "Seguindo esse raciocínio, seria algo como um menino que hoje não vê problema em colar na prova ser mais propenso a, mais pra frente, subornar um guarda sem achar que isso é corrupção", diz.
Segundo a pesquisa da UFMG, 35% dos entrevistados dizem que algumas coisas podem ser um pouco erradas, mas não corruptas, como sonegar impostos quando a taxa é cara demais.
----------------
A corrupção cotidiana


A leitura apressada dos jornais e revistas pode sugerir que a corrupção foi inventada a partir das eleições de 2002. Os mais atentos, porém, sabem que isso vem de longe, desde o Império, e permeia a história política e econômica brasileira.

A construção de Brasília foi “aquela” farra-do-boi. Na época de Sarney tivemos o verdadeiro homem-da-mala-preta, hoje vestal da moralidade querendo acabar com “aquela raça”. Em 1997, a compra dos votos que garantiram a emenda da reeleição. Além do periódico perdão das dívidas dos ruralistas.

Mas a campeã – que a História haverá de demonstrar – foi a mágica da privataria, em que parte do patrimônio público foi torrado sob o pretexto do equilíbrio das contas nacionais. A evaporação dos 104 bilhões de dólares arrecadados provocou a triplicação da dívida externa, além da quebra do país. Não satisfeitos, querem agora voltar para liquidar o que sobrou.

Entretanto, se esses fatos provocam a indignação da sociedade – catarse das frustrações do dia a dia –, o mesmo não acontece com as mazelas do cotidiano, essa corrupção no varejo, quase “normal”. Não se considere aqui os estacionamentos em fila dupla ou em locais proibidos, “só por um minutinho”, nem a fila do banco furada pelos “clientes preferenciais”. Essas pequenas patifarias apenas refletem a mentalidade dominante de se “levar vantagem em tudo”. Certo?

Trata-se aqui da corrupção miúda, permanente, que, somada ao final de um ano, coloca no bolso (epa!) qualquer mensalão. Por exemplo, essa “sugestão” das autoescolas, denunciada novamente por este Mogi News. Sim, há três anos eram R$30,00 para “apressar a papelada”; agora, R$250,00 para “passar” no exame de direção, o que envolveria a Ciretran. Quantos exames são feitos por ano em Mogi, com seus quase 400 mil habitantes? E no Brasil, quase 200 milhões? Já calcularam a grana que rola? E só em carteiras de habilitação; imagine o resto.

Facilidades. Se há quem venda é porque há quem compre, e nisso todos se igualam. Há exceções, entretanto: o empreiteiro Adevair Ferreira, mesmo reprovado em dois exames, não se submeteu à “sugestão” dos R$250,00 e botou a boca no trombone. Um exemplo de coragem cidadã e de resistência ao império da malandragem.

Falando francamente: cada um de nós tem recusado as “sugestões” cotidianas, marca registrada da esperteza e da anticidadania? Que o exemplo de Adevair frutifique, pois sem a negação diária do “jeitinho”, esta continuará sendo – deitada eternamente – uma nação de segunda classe. E de cidadãos idem.

Cid Cancer – (05/11/2005)






quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Sionistas na Av. Paulista em defesa da guerra

Com o discurso da defesa da paz, manifestantes desfilam na Av. Paulista, em São Paulo, defendendo a ação genocida do governo sionista de Israel na Faixa de Gaza contra a população palestina. 

Note o cartaz à esquerda, que diz claramente: HAMAS QUER GUERRA. É muito conveniente se fazer de eterna vítima, o velho álibi que a tudo justifica.

Foto enviada por um amigo que prefere o anonimato