quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um Belo Monte de desinformações




Por Bruno Rezende.


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Debater sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Estado do Pará, ou qualquer outro assunto do nosso país é indispensável, pois o debate profundo é o caminho para chegarmos às soluções consistentes. Ok, mas cadê a opinião da sociedade? Pior que não ter opinião, é ter uma opinião tendenciosa que foi implantada pela mídia – na qual a maioria dos brasileiros acredita cegamente – ou ser influenciado por um movimento de atores que usa seu poder midiático para propagar informações levianas e totalmente distorcidas sobre o tema. Belo Monte ou Belo Monstro?

Antes que alguém pense que estou defendendo ou atacando o projeto de construção de Belo Monte, gostaria de deixar claro que a ideia aqui é apresentar informação baseada na realidade, como forma de informar e estimular o debate. Eu venho acompanhando há bastante tempo este assunto, mas apenas como espectador, divulgando via Twitter e Facebook alguns artigos técnicos referentes ao tema. Não quis me precipitar levantando opiniões em áreas técnicas que estão totalmente fora da minha alçada, mas como a proposta desse blog é traduzir essa informação de um modo que todos compreendam, inclusive eu, resolvi escrever este primeiro post. Espero também que seja o último sobre isso.
    "A hidrelétrica seria limpa se fosse no deserto; A usina inundará uma área de 640 km2 de mata virgem; A usina gerará, de fato, apenas um terço de sua potência máxima; A usina custará 30 bilhões de reais; Os índios não vão ter onde morar."
Estes são só alguns dos mitos levantados pelo movimento articulado por atores da TV Globo, chamado Gota D’Água. Trata-se de uma verdadeira sopa de abobrinhas que só ajuda a propagar a ignorância através de informações distorcidas, assim como outros movimentos e instituições já fazem com o tema “Sustentabilidade”.

Para entender melhor a crítica sobre este movimento dos atores globais é indispensável a leitura do artigo escrito por Reinaldo Azevedo intitulado “Falar mentiras é diferente de ter uma opinião”.

Principais verdades e mitos que vemos por aí

OS ÍNDIOS NÃO VÃO TER ONDE MORAR - MITO

Mais sensacionalista e incoerente impossível. Segundo dados das próprias organizações ambientais que atuam na região de Altamira a população total de índios que serão afetados pela construção da usina de Belo Monte é de 2208 pessoas, sendo 226 diretamente afetados pela diminuição da vazão dos rios Paquiçamba e Arara da Volta Grande e os da Área Indígena Juruna do km 17 da PA-415 (que será afetada pelo aumento do tráfego na estrada) e 1982 afetados indiretamente. O relatório completo da população que será afetada com a obra pode ser conferido clicando aqui.

Os índios vão ter onde morar, pois os assentamentos e as indenizações estão previstas no projeto, tudo no rigor da lei. Por falar em lei, ainda lembro alguma coisa da minha rápida passagem pela faculdade de Direito. Existe um termo no Direito Administrativo chamado “domínio eminente”, trata-se do poder que o Estado exerce potencialmente sobre as pessoas e os bens que se encontram no seu território, sejam públicos ou privados. A Constituição nos garante que o Estado não pode exercer sobre os bens privados (particulares) o mesmo domínio que exerce sobre bens públicos, no entanto a interferência do Estado em bens privados vai desde o ordenamento do solo à desapropriação, ocupação temporária, requisição, tombamento, entre outras interferências. Por exemplo, se você descobrir petróleo no chão da sua casa, se a sua casa está no meio do caminho do projeto de uma estrada ou se ela for clássica e quiserem tombá-la como patrimônio histórico, você não poderá fazer nada. É pegar a indenização e aceitar pelo “bem comum”.

Não que eu seja a favor de índios tendo que ser removidos de suas terras por ganância política e corporativista, mas um brasileiro afirmar que o Brasil vai deixar os índios sem moradia com uma mão na frente e outra atrás é ignorância.

 
A VAZÃO DO RIO XINGU VAI DIMINUIR – VERDADE

A vazão irá sim diminuir, mas não será ao ponto de prejudicar a navegação das embarcações nem as populações ribeirinhas, como andam dizendo. As garantias disso estão no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) de Belo Monte, basta que os órgãos de fiscalização ambiental, o governo e (principalmente) a sociedade monitore o cumprimento das recomendações.

A USINA INUNDARÁ UMA ÁREA DE 640 km2 – VERDADE – de “mata virgem” – MITO

A usina inundará uma área de 600km2, mas o mito desta afirmação está na “mata virgem”. De acordo com o ambientalista Dener Giovanini, que esteve em Altamira, o que mais falta naquela região do Pará é floresta. Dener diz que quem visita o entorno de Altamira só encontra pequenas ilhas de mata que, normalmente, estão cercadas por grandes áreas de pasto.

Para quem nunca foi para Altamira, como eu, vale dar uma passeada no mapa abaixo e confirmar a informação do Dener. Na imagem abaixo você pode ver uma parte da área que será alagada pela usina. Tire suas conclusões sobre mata virgem:

Exibir mapa ampliado
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A inundação é relativamente pequena, pois parte dela já é inundada hoje no período das chuvas. Tudo indica que a represa cobrirá pouquíssimas áreas de floresta virgem, a maior parte será coberta por áreas já super desmatadas e sem retorno econômico ou social aparentes, visto pelos vilarejos do local.

Por falar em desmatamento vale lembrar que a taxa anual de desmatamento da Amazônia vem caindo, mas em 2010 ainda estava em 7.000 km2 (uma Belo Monte a cada 2 meses), desses 3770 km2 só no Pará, como pode ser visto nos dados do INPE clicando aqui.


A USINA PRODUZIRÁ APENAS 1/3 DA SUA CAPACIDADE – MITO

Na verdade Belo Monte produzirá 42% da sua capacidade. Para utilizar sua capacidade total de produção a usina teria que manter um grande reservatório, assim como as hidrelétricas de Sobradinho (4.214 km2) e Tucuruí (2.850 km2), mas visando a diminuição do impacto ambiental Belo Monte usará o regime de fio d´água e uma área alagada de 600 km2.

A desvantagem do regime de fio d’água é que em períodos de estiagem das chuvas o Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS) determina, se necessário, a entrada em operação a pleno vapor de fontes de energia complementares, as usinas termoelétricas, movidas a gás natural, carvão, biomassa (bagaço da cana de açúcar) e as nucleares, todas muito mais poluentes que as hidrelétricas.

Luiz Pinguelli Rosa, diretor da COPPE-UFRJ, diz em seu artigo “A razão das hidrelétricas”:
    "A potência máxima de Belo Monte é de 11 GW e a média é de 4,6 GW. A relação desses dois valores dá o fator de capacidade de 42%, bem menor que os de Jirau e de Santo Antônio. Entretanto, em geral, as hidrelétricas brasileiras têm fator de capacidade pouco acima de 50%. Esse fator é de, em média, 21% nas hidrelétricas na Espanha, de 32% na Suíça, de 35% na França e no Japão, de 36% na China e de 46% nos EUA."
Então, mesmo utilizando em média 42% da sua capacidade, Belo Monte fica a frente da China e de vários países europeus.


80% DA OBRA SERÁ CUSTEADA COM DINHEIRO PÚBLICO – VERDADE

A mais pura verdade, assim como estradas, hospitais e outras obras de infraestrutura, como as dos estádios para a Copa de 2014 são financiadas. Inclusive o custo para o Brasil sediar a Copa está avaliado em R$ 112 bilhões, de acordo com um estudo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

Alguém acha que construir estádios para Copa de 2014, estradas ou hospitais é dinheiro jogado fora? Acho que não né! E não é mesmo. 80% da obra de Belo Monte será financiada pelo BNDES, ou seja, não é uma doação. Essa grana será devolvida ao banco com juros e correção monetária em 30 anos.

Então é melhor mudar o foco, parar com o papo de que investimento em obras de infraestrutura é dinheiro jogado fora. Temos que nos preocupar mais é com a corrupção, o superfaturamento de cada obra, isso sim precisa ser resolvido, mas parar tudo que não pode.


BELO MONTE CUSTARÁ 30 BILHÕES DE REAIS – MEIA VERDADE (especulação)

De acordo com Célio Bermann, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP com doutorado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp o custo da obra em 2006 era de R$ 4,5 bilhões. Em 2010 antes de ir para o leilão que definiu a operação e construção da usina o custo estimado já chegava a R$ 19 bilhões. Bermann afirma que hoje a obra está oficialmente orçada em R$ 26 bilhões, mas estima que não sairá por menos de R$ 32 bilhões, sem contar a possibilidade de superfaturamento.

A meu ver o valor de R$ 30 bilhões divulgado pela imprensa já considera o superfaturamento, coisa tão comum no Brasil. Alguns defendem, de forma equivocada, que o custo do projeto elevou devido às indenizações e deslocamento da população indígena que será afetada pela obra. Vamos combinar, um projeto que custa R$ 4,5 bilhões passar a custar R$ 30 bilhões por conta de deslocamento dos índios? Nesse preço, para qual planeta iriam?


Acredito que esses são os principais mitos e verdades falados por aí, existem outros mas eu precisaria escrever um livro para listá-los. Para acrescentar nessa desmistificação eu sugiro que assistam ao vídeo abaixo, trata-se de um engenheiro quebrando alguns mitos técnicos sobre Belo Monte, inclusive sobre a idéia inconsistente de substituir o projeto da usina hidrelétrica por energia solar o eólica, confira:


Caso tenha recebido essa publicação via RSS ou e-mail, clique aqui para ver o vídeo.


Para finalizar eu gostaria de sugerir a leitura indispensável de uma entrevista feita com Célio Bermann, um dos mais respeitados especialistas do país na área energética. Ele deixa claro que é contra o projeto de Belo Monte, e pelo o que ele diz na entrevista eu também me posicionaria contra o projeto. Bermann afirma que Belo Monte é apenas a ponta de um iceberg muito maior que vem por aí, um conjunto de hidroelétricas planejadas para a região do Xingu. A obra faz parte de um planejamento governamental muito mais amplo, um projeto 'estratégico' associado à forma como os nossos representantes políticos vêm a nossa matriz energética e o nosso modelo de desenvolvimento. Segundo ele atualmente há 77 projetos de usinas hidrelétricas somente na Amazônia que utilizam a "Síndrome do Blecaute" para se viabilizarem.

São aspectos extremamente importantes que não são discutidos quando o assunto é Belo Monte, como: a política no Brasil, o corporativismo, o conceito de desenvolvimento e o nosso comportamento. Clique aqui e confira a entrevista na íntegra.

Indico também este post do nosso parceiro Discutindo Ecologia, que fala do movimento “Tempestade em Copo D’Água” onde universitários mostram o outro lado da construção de Belo Monte, vale a pena conferir.

Agora me diz você, é Belo Monte ou Belo Monstro?

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Belo Monte e outras questões complicadas


Alvaro Augusto W. de Almeida

SEGUNDA-FEIRA, NOVEMBRO 21, 2011


Na semana que passou o movimento Gota D'água publicou um vídeo, encenado por atores conhecidos, criticando a construção da UHE Belo Monte, a entrar em operação em 2015, no Rio Xingu (Pará). A capacidade instalada da usina, 11.233 MW, fará dela a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, quando classificadas pela capacidade. Contudo, restrições ambientais farão com que a usina funcione a fio d'água, com capacidade reduzida de armazenamento, gerando 4.571 MW médios, o que corresponde a um fator de capacidade de 40,7%. Para fins de comparação, o fator de capacidade médio das hidrelétricas brasileiras é 55%. A média mundial é menor do que isso, talvez chegando a 45%. Isso ocorre porque o Brasil é um dos poucos países de fato hidrotérmicos, que baseia mais de 90% de sua produção energética em usinas hidrelétricas e usa as termelétricas como complementação. Outros países detêm pouca capacidade hidrelétrica, usando-a em períodos críticos e optando pelas termelétricas ou nucleares como fonte energética principal. Por exemplo, a famosa Barragem Hoover, de 2.080 MW, localizada no Rio Colorado, na fronteira entre os estados norte-americanos de Arizona e Nevada, tem fator de capacidade de 23%.

Um dos argumentos dos ambientalistas que se opõem à construção de Belo Monte é o tamanho do reservatório da usina, que terá 516 km². Tal número, que resultou da revisão do projeto (a área anterior era de 1.225 km²), equivale à área de um quadrado de 22,7 km de lado e deve ser colocado em perspectiva. Primeiramente, a área conjunta dos reservatórios das duas usinas do Complexo Rio Madeira, por exemplo, já em construção em Rondônia, é semelhante à de Belo Monte: o reservatório da UHE Jirau tem 258 km² e o reservatório da UHE Santo Antônio tem 271 km². Juntos, ambos somam 529 km². Por outro lado, a área do reservatório da UHE Tucuruí, em operação no Pará desde 1984, é de impressionantes 2.850 km². Em outras palavras, as usinas amazônicas mais recentes fazem uso mais eficiente de seus reservatórios, pelo menos em termos de sustentabilidade ecológica, em comparação à quase balzaquiana Tucuruí. Este fato fica evidente a partir da análise da densidade de energia, conforme a tabela abaixo, que mostra os dados de algumas hidrelétricas amazônicas (clique sobre a tabela para ampliá-la).




Em segundo lugar, podemos comparar o reservatório de Belo Monte ao desmatamento na região amazônica. Uma das várias estatísticas disponíveis indica um desmatamento mensal de 110 km², somente no estado do Pará [3]. Em um mundo ideal, nem desmatamentos nem alagamentos existiriam e ainda haveria comida e energia para todos. Todavia, ao construirmos em nossas mentes um mundo ideal e depois compará-lo aos fatos reais, incorremos em um argumento conhecido como falácia do Nirvana, que denota nossa tendência de buscar soluções ideais para problemas reais. No mundo real, contudo, devemos buscar alternativas concretas para o ideal. E, se for possível escolher, é certamente muito melhor construir usinas hidrelétricas, que operarão por 30 anos ou mais e ajudarão no crescimento do Brasil, do que queimar 1.320 km² anuais em florestas (duas vezes e meia Belo Monte) e substituí-las pelas pobres pastagens que podem crescer no solo amazônico ou, pior ainda, substituí-las por uma grande desolação. Ainda assim, caso decidamos não construir Belo Monte (o que será muito difícil, pois o leilão já foi realizado e efetivado), algum substituto real, não utópico, não nirvânico, deverá ser encontrado.

Uma opção interessante são as usinas eólicas, que estão se tornando cada vez mais competitivas. Entretanto, além de terem baixos fatores de capacidade (40% a 45%, no máximo), é bem conhecido que o vento não pode ser armazenado. Por causa disso estima-se que a capacidade das eólicas não deva ultrapassar 20% da capacidade instalada total de um sistema interligado. No nosso caso, esse limite corresponderia atualmente a 23.250MW, pouco mais de duas vezes Belo Monte (que, coincidentemente, terá o fator de capacidade de uma eólica de fator elevado). Considerando que temos 1.260 MW de capacidade eólica em operação, que outros 4.113 MW foram outorgados entre 1998 e 2010 e que 6.052 MW foram habilitados no leilão A-3/2011, talvez não demore muito para atingirmos tal limite. Depois disso, contaremos apenas com a expansão eólica na margem de crescimento.

Outra opção é a construção de usinas solares, mas estas são ainda muito caras, a ponto de a Espanha já estar optando por uma pausa nos investimentos solares [4]. Temos também as termelétricas a gás natural, com 11.424 MW em operação, 1.818 MW outorgados, mas apenas 13,16 MW em construção [1]. Pode parecer estranho, mas temos mais capacidade termelétrica a óleo combustível, óleo diesel e carvão mineral em construção (351 MW, 1.700 MW e 1.440 MW, respectivamente) do que a gás natural [1], o combustível menos poluente e mais fácil de transportar dentre todos . Mesmo assim, os movimentos ambientalistas contra usinas a carvão, a óleo e a diesel são poucos e pouquíssimo representativos quando comparados aos movimentos contra Belo Monte.

As usinas nucleares são uma opção interessante, mas tornaram-se mais caras e problemáticas depois de Fukushima e certamente enfrentarão oposição das mesmas ONGs que se opõem a Belo Monte e de muitas mais. E, finalmente, temos a opção da eficiência energética, que certamente deve ser buscada por uma simples questão de redução de custos e de desperdícios. Contudo, esperar que um país detentor de um discretíssimo consumo anual de 2,14 MWh per capita, como é o caso do Brasil, que ocupa o 64° lugar nesse requisito, encontre sua solução energética na busca por consumos mais eficientes é, mais uma vez, parte de uma utopia. A solução real será, como sempre, uma composição de todas as soluções disponíveis, inclusive das hidrelétricas de todos os portes. E deixemos a questão do desmatamento para algum especialista na área, talvez algum ator famoso.



[1] ANEEL. Banco de Informações de Geração - BIG. Disponível em: http://bit.ly/vJO0L9.
[2] ANEEL. Perguntas e respostas sobre Belo Monte. Disponível em: http://bit.ly/rBuysl.
[3] EXAME.COM. Pará lidera desmatamento na Amazônia, 1 de ago. 2010. Disponível em:http://bit.ly/sTe9EL.
[4] JORNAL DA ENERGIA. Setor elétrico espanhol pede pausa nos investimentos em energia solar, 18 de nov. 2011. Disponível em: http://bit.ly/v0VWbo.

sábado, 19 de novembro de 2011

O menino e a baguette





© Foto de Willy Ronis. Le petit parisien, 1952.



A fotografia intitulada "Le petit parisien", feita em 1952, é uma das mais conhecidas do fotógrafo francês Willy Ronis. Na foto vemos um sorridente menino correndo com uma baguette debaixo do braço.

Willy Ronis é um dos fotógrafos mais expressivos do século 20, da mesma geração de Bresson, Lartigue e Doisneau. Nascido em 1910, o trabalho de Willy Ronis precisou de muito tempo para ser reconhecido, o que só aconteceu na década de 80.

Filho de um fotógrafo judeu de origem russa, Willy Ronis nasceu em Paris. O seu pai lhe presenteou a primeira câmera aos 16 anos. Em pouco tempo tornou-se fotógrafo para ajudar no sustento da família.

Retratou Paris em todos os seus aspectos, registrando o cotidiano das ruas no pós-guerra. Em 1946, fez parte da primeira equipe da agência Rapho. Faleceu em 2009, aos 99 anos.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Relaxe e.... medite...


Se você está:


Estressado com a crise financeira do mundo;

Puto da vida porque seu time só perde;

De saco cheio com a putaria política;

Trincando os dentes com a baixaria da mídia,

Subindo pelas paredes porque levou o fora da namorada.


Relaxe e.... medite....ommmmmmmmmmmmmmmm



sábado, 12 de novembro de 2011

As 10 maiores dúvidas sobre a cerveja...

FORA DE PAUTA - BLOG DO LUIS NASSIF



Hoje é sábado, portanto...
As 10 maiores dúvidas sobre a cerveja:

1. A CERVEJA MATA?
Sim. Sobretudo se a pessoa for atingida por uma caixa de cerveja com garrafas cheias. Anos atrás, um rapaz, ao passar pela rua, foi atingido por uma caixa de cerveja que caiu de um caminhão levando-o a morte instantânea. Além disso, casos de infarto do miocárdio em idosos teriam sido associados as propagandas de cervejas com modelos boazudas.
2. O USO CONTINUO DO ALCOOL PODE LEVAR AO USO DE DROGAS MAIS PESADAS?
Não. O álcool é a mais pesada das drogas: uma garrafa de cerveja pesa cerca de 900 gramas .
3. CERVEJA CAUSA DEPENDÊNCIA PSICOLÓGICA?
Não. 89,7% dos psicólogos e psicanalistas entrevistados preferem uísque.
4.. MULHERES GRÁVIDAS PODEM BEBER SEM RISCO?
Sim.. Está provado que nas blitz a polícia nunca pede o teste do bafômetro para as gestantes. E se elas tiverem que fazer o teste de andar em linha reta, sempre podem atribuir o desequilíbrio ao peso da barriga.
5. CERVEJA PODE DIMINUIR OS REFLEXOS DOS MOTORISTAS?
Não.. Uma experiência foi feita com mais de 500 motoristas: foi dada uma caixa de cerveja para cada um beber e, em seguida, foram colocados um por um diante do espelho. Em nenhum dos casos, os reflexos foram alterados.
6. A BEBIDA ENVELHECE?
Sim. A bebida envelhece muito rápido. Para se ter uma idéia, se você deixar uma garrafa ou lata de cerveja aberta ela perderá o seu sabor em aproximadamente 1 hora.
7. A CERVEJA ATRAPALHA NO RENDIMENTO ESCOLAR?
Não, pelo contrário. Alguns donos de faculdade estão aumentando suas rendas com a venda de cerveja nas cantinas e bares na esquina.
8. O QUE FAZ COM QUE A BEBIDA CHEGUE AOS ADOLESCENTES?
Inúmeras pesquisas vinham sendo feitas por laboratórios de renome e todas indicam, em primeiríssimo lugar, o garçom.
9. CERVEJA ENGORDA?
Não. Quem engorda é você.
10. A CERVEJA CAUSA DIMINUIÇÃO DA MEMÓRIA?
Que eu me lembre, não.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sobre Mosca e outros Seres Asquerosos


O texto abaixo é de autoria de Marco Tanoeiro, e foi publicado em seu blog http://blogdotanoeiro.blogspot.com/2011/10/sobre-mosca-e-outros-seres-asquerosos.html . Ele vem ao encontro do que este PadariaPost tem defendido: a separação total dos negócios da religião - sejam quais forem - do Estado, que é laico. 


SOBRE MOSCA E OUTROS SERES ASQUEROSOS

Padres deveriam cuidar de suas igrejas! E só! 

Zelassem os clérigos pelos princípios básicos da moral e dos bons costumes e não teríamos a igreja envolvida em tantos escândalos.

No entanto, talvez pela ânsia desenfreada de controlar a debandada de fiéis para outras religiões, os líderes católicos passaram a trilhar outros caminhos, muitos deles tortuosos até para quem os conhece bem, que dirá para esses verdadeiros rábulas de batina.

Dia desses um conhecido pároco de Suzano, na grande São Paulo, resolveu dar seus pitacos sobre a saúde local, demonstrando uma ignorância sobre a matéria dignas de... um padre! 

O pior é que resolveu fazer isso por meio de artigo, publicado em sua coluna habitual, em um dos jornais de maior circulação na região do Alto Tietê.
Eis que, hoje pela manhã, me deparo com um texto de Leonardo Sakamoto, publicado em seu Blog, que se encaixa como uma luva no caso em tela.

Mesmo sem conhecer o padre suzanense (na verdade italiano) posso dizer sem medo de errar que o texto do Sakamoto é um daqueles tiros em que se acerta na "mosca".

Segue o texto na íntegra.


Que tal entregar a saúde pública à igreja? 

por Leonardo Sakamoto*


O reitor do Santuário Nacional de Aparecida pediu ao ministro da Saúde que não distribua camisinhas nas escolas públicas, afirma o Painel da Folha de S.Paulo de hoje.


Sabedoria divina que arrepia. Até porque, como todos sabemos, jovens só fazem sexo por causa do preservativo grátis. Sim, ela, a camisinha, é a responsável por tirar da inocência milhões todos os anos. Sem a dita, viveriam uma vida de castidade, dedicada às boas causas. Mas não! Enquanto o pecado em forma de látex lubrificado estiver à espreita de nossos adolescentes, feito o Tranca-Rua, o Tinhoso, o Cramulhão mangando Jesus no deserto, não haverá paz.


E o Estado, ao distribuir essas sementes da luxúria, é como a serpente que ofereceu o fruto da árvore proibida à Eva, levando ao conhecimento do bem e do mal. Pobre Adão! Pobres rapazes tirados da castidade por culpa de garotas que repetem o pecado original!


Sem esquecer dos padres acusados de molestar sexualmente de crianças, levados à tentação por conta de anúncios libidinosos de preservativos.
Malditas sejam todas as camisinhas! Antes delas, não havia sexo antes do casamento, muito menos cópula que não fosse com o sagrado intuito da procriação.


Com base no doce raciocínio do clérigo, proponho algo revolucionário: fechar as fábricas de preservativos. Jontex, Olla, Preserv, Blowtex… Isso acabaria com todas as doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, noves fora os filhos indesejáveis.


Enfim, vamos entregar a questão da saúde pública aos cuidados da Igreja Católica. Certamente, ela terá a coragem de pôr em prática ações que o Estado não toma.


Os problemas sociais serão resolvidos com base no Código de Direito Canônico e, por que não, na reedição da bula Cum ad nihil magis, do Santo Ofício. Por exemplo, condenar médicos que fizerem abortos, mesmo que nos raros casos previstos em lei, a uma eternidade de privações no limbo – já que não se fazem mais fogueiras em praças públicas como antigamente – vai por um ponto final na questão.


Revolucionário, nesse sentido, foi o então arcebispo de Olinda e Recife José Cardoso Sobrinho, que excomungou os médicos envolvidos no aborto legal feito por uma menina de nove anos, 1,36 m e 33 quilos, grávida de gêmeos do padrastro que a estuprava desde os seis anos de idade. 


“O adulto, quem aprovou, quem realizou esse aborto, incorreu na excomunhão. A Igreja não costuma comunicar isso. Agora, a gente espera que essa pessoa, em momentos de reflexão, não espere a hora da morte para se arrepender”, disse em 2009. Amém.


O mesmo vale para o uso – e, quiçá – distribuição gratuita de preservativos. O arcebispo da Paraíba, Aldo Pagotto, suspendeu o deputado federal e padre Luiz Couto (PT-PB) de suas funções como sacerdote porque ele defendeu o uso da camisinha e os homossexuais.


Enfim, tudo isso seria engraçado, apenas fait divers em colunas de jornais se, em épocas de eleições, os candidatos não vendessem sua alma à igreja na busca por votos, prometendo em troca a manutenção do controle simbólico sobre o corpo dos cidadãos.


* Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP e ex-professor na USP, trabalhou em diversos veículos de comunicação, cobrindo os problemas sociais brasileiros. É coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.


http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/10/13/que-tal-entregar-a-saude-publica-a-igreja/




domingo, 2 de outubro de 2011

Carnaval em Pernambuco: quem ama, cuida


PadariaPost traz uma reflexão que vale não apenas para o Carnaval do Recife, mas para todas as manifestações culturais deste país multifacetado. 
Silvana Viana Torres
Lendo o blog, na manhã deste 10 de março, tive a grata surpresa de me deparar com o que escreveu um leitor atento sobre o processo de privatização do nosso carnaval.
No último dia 24, a escritora Célia Labanca, em artigo publicado na Folha de Pernambuco (Responda quem souber), também chama atenção para o fato. Concordo com os dois. Passei o carnaval, pela primeira vez, sem brincar, apenas observando e acompanhando a cobertura da imprensa pela televisão e pela internet. Em nome da Multiculturalidade o carnaval de Recife vem sendo transformado em um grande festival de musica como esses que acontecem em várias cidades mundo afora.
Não é de hoje, vale ressaltar.
Mas, agora em 2011, chegamos ao extremo. Doía ver o carnaval, pela oitava (?) vez ser aberto com Naná Vasconcelos e seus batuqueiros e de quebra um show produzido por Lenine, supostamente em homenagem à nossa presidenta, com várias cantoras, todas ótimas, é verdade, cantando musicas de seus próprios repertórios, de Roberto Carlos e por aí vai. No show, apenas Nena Queiroga honrou o carnaval de Pernambuco. Nada contra Naná, ao contrário, mas na terra do Frevo - queiram ou não – por que o carnaval não ser anunciado pelos clarins e aberto por 400 metais? Esse absurdo, que dizem ser tradição, chegou ao seu máximo no carnaval dos 100 Anos de Frevo. Naquele ano foi indigesto ouvir a grande Maria Bethânia abrir o carnaval dos 100 Anos do Frevo, cantando uma “loa” acompanhada pela percussão de Naná.
Sempre entendi que nosso carnaval é multicultural. Senão, vejamos. Temos o frevo - ritmo e dança - com seus inúmeros blocos ; os maracatus de Baque Virado e de Baque Solto; os caboclinhos; as cirandas; as escolas de samba; as la ursas; os bois; o cavalo marinho (o sobrevivente é do município de Aliança), os caretas, os bonecos, os papangus e outros. Mas, onde estão mesmo as tradicionais agremiações do nosso carnaval? Como sobrevivem? Com os parcos recursos liberados pelo poder público nas vésperas do carnaval?
Quanto ao frevo, aquele que “entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé” , é ele, sim, o responsável pela alegria do nosso carnaval. É ele que andam fazendo questão de rebaixar, em nome da Multiculturalidade, a despeito de hoje ser Patrimônio Imaterial.
Lembrem que a PCR até mudou o Concurso de Frevo. O que já não era bom, hoje se chama Concurso de Música Carnavalesca, incluindo maracatu, caboclinho etc... Com qual desses ritmos nosso estado e nossa capital são identificados mundo afora? Alguém já ouviu falar de uma pessoa adquirir um disco com esses ritmos, seja para ouvir ou dançar? Mas todo mundo sabe de alguém que tem discos de frevo. E na folia, em casa ou na calçada, no carro, durante o carnaval, é o que se ouve. Culpam as emissoras de rádio por não dar espaço às novas composições. Não sei esse ano, mas em 2010 o disco do tal festival foi lançado depois do carnaval.
O que assistimos, hoje, algumas pessoas inconformadas, é a mais completa descaracterização do carnaval pernambucano. Ao contrario do Rio de Janeiro, que vem, a todo custo, tentando resgatar sua folia de rua, promovendo concurso de marchinhas, com dezenas de blocos sendo criados, Pernambuco e sua capital seguem jogando valiosas tradições no lixo.
Seja o poder público promovendo shows nada a ver com o carnaval; seja a imprensa em êxtase com o movimento de “celebs”, em luxuosos camarotes tipicamente baianos; sejam os ditos “produtores culturais”, com seus carnavais de trios elétricos, hoje até em blocos de bairro, como acontece há dois anos com o Bloco do Oiti, no Espinheiro. E, pasmem! Até a escola infantil, Saber Viver, na semana pré carnavalesca, botou seu bloco de crianças atrás de um trio elétrico, desfilando pela (ainda arborizadas) ruas do Espinheiro – cena bizarra, que dispensa maiores comentários, até por ser uma escola que, em tese, deveria repassar nossa cultura às suas crianças. Uma orquestra de frevo ali e estaria tudo maravilhoso.
Passado o carnaval, resta-nos as felizes declarações das pessoas que comandam o turismo em nosso estado e daquelas que se intitulam “produtoras culturais”. Todas felizes com a ocupação de 99% da rede hoteleira, regozijadas com o lucro e o sucesso do Festival Multicultural. Desculpe, carnaval.
Mas, olha aí a brecha: vocês, produtores ,têm espaço no nosso calendário para fazer um evento dessa natureza - o começo do verão. Por que não um Rock in Capibaribe? Invistam, ousem, arrisquem seus ricos dinheirinhos, corram em busca de patrocínios. Preencham o calendário de festas da nossa Capital Multicultural. Hotéis lotados, empregos gerados, dinheiro no bolso ,em outro período do ano. Mas, preservem o Carnaval de Perambuco, único pela sua diversidade cultural. E, como disse Célia Labanca em seu artigo, citando Tolstoi: "Se queres ser universal, canta bem a tua aldeia"

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A morte do PMDB suzanense


Esta é mais uma daquelas histórias que têm se repetido com exasperante frequência: a tomada do diretório municipal de um partido político por meio não ortodoxos, por cima, quase na mão grande. O PMDB de Suzano mudou de mãos. Assume seu controle agora um polĩtico inexpressivo, notório caudatário do coronel local, que mal consegue esconder suas digitais na mais nova patifaria política no Alto Tietê Cabeceiras.

Em jogo, claro, as eleições municipais de 2012. Imaginam, os espertos de hoje, com a cumplicidade indisfarçada de seu presidente estadual, que isso os levará de volta ao poder depois de terem sido enxotados em 2004, fragorosamente confirmado em 2008. Por quase 30 anos a prepotência temperada pela tacanhice e a mediocridade deram as cartas na cidade. O coronel, aliado fiel da Ditadura e cúmplice dos nefastos anos demotucanos em SP, quer voltar, com o jogo sujo de sempre. Mas os tempos são outros, o país mudou.

O PadariaPost  traz aqui o testemunho do secretário dos Negócios Jurídicos da prefeitura de Suzano. É um texto duro, de quem sabe e conhece bem o jogo pesado e as manobras subterrâneas que resultaram na tomada do PMDB local. Numa região dominada pelo conservadorismo político, Suzano constitui-se, hoje, na referência de administração voltada para todos. Os defenestrados de ontem querem voltar, mas deixaram o rabo de fora: ao se apoderarem do PMDB local não o fizeram pela porta da frente: pularam a janela.


Marco Tanoeiro

O PMDB em Suzano está morto! Definitivamente! Deixa de fazer parte da história da cidade para se transformar em mais um defunto insepulto a assombrar a política local.

Começou sua derrocada fatal ao destituir de seus cargos os membros do diretório local, legitimamente eleitos para comandar o partido, entregando a legenda a aventureiros há anos distantes do partido, que passaram a empregar um estilo mambembe aos trabalhos.

O golpe de misericórdia se deu esta semana com a perda de um de seus mais importantes membros, o ex-vereador e atual vice-prefeito e secretário de governo de Suzano, Walter Roberto Bio.

Walter Bio estava no partido há 20 anos. Nunca esteve em outro. Foi por três vezes vereador na cidade, tendo também exercido a função de presidente do legislativo local. Presidiu o PMDB em Suzano por oito anos, seis deles de forma ininterrupta. Em 2008 elegeu-se vice-prefeito em um processo eleitoral ímpar, que impingiu uma derrota acachapante a um até então imbatível adversário.

Mas isso tudo é passado. Walter Bio não é mais do PMDB. Talvez nunca mais seja. Isso porque os aventureiros que tomaram de assalto o partido, entrando pela janela, decidiram que a legenda agora será oposição à atual administração. Agora, depois de quase três anos de mandato resolveram que não concordam com as políticas adotadas pela atual administração. Agora, que o Executivo local repete a mesma dobradinha do Executivo Federal (PT/PMDB). Agora, que um outro ex-prefeito resolveu abandonar o conforto de sua insignificância pública para lançar-se candidato a vice-prefeito, pegando carona no compartimento de cargas do trem da política local.

O PMDB de Suzano não é mais um partido sério. Por isso não tem mais Walter Bio em seus quadros.

Separadas as hordas das reais estirpes políticas, temos a certeza que Walter Bio seguirá em sua brilhante e vitoriosa carreira de homem público.

Quanto ao PMDB local, está a espera de sua derradeira pá de cal.


domingo, 11 de setembro de 2011

QUERIDO DIÁRIO - Chico e a Mulher sem Orifício


A horrenda “Veja caiu de pau no novo CD do Chico, desclassificando o compositor e anunciando sua inexorável decadência artística, eis que ele já não seria mais o mesmo. O velho Chico teria perdido o talento de traduzir as emoções femininas e, para preservar pobremente a rima (olha ela aí!), teria optado por achincalhar a mulher, na sua nova canção“Querido Diário”:

(…) Hoje pensei em ter religião / De alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício / Por uma estátua ter adoração / Amar uma mulher sem orifício(…).

As meninas do Saia Justa, exaltadíssimas, revoltadíssimas, tucanéssimas, quase tiveram um ataque. “Como assim, sem orifício? Isso é um absurdo, me senti mal, me senti constrangida. Poxa (assim mesmo: poxa), logo ele… Será que envelheceu, será que perdeu o tom?

A música carro-chefe do próximo CD do Chico, a ser brevemente lançado, a meu ver fala mais é da angústia de viver num mundo tão agressivo. E, nele, ter que conviver entre o ceticismo e a crença, entre o ateísmo e a fé. Crença ou não, fé ou não, no ser humano, no homem – particular ou coletivo, que nos rodeia. E em nós mesmos. E, frente a essa angústia, crença ou não, fé ou não, no transcendente, no sentimento impalpável e obscuro: “(…)dizem pra eu ter muita luz, ficar com Deus / eles têm pena de eu viver sozinho(…)De volta a casa na rua / Recolhi um cão / Que de hora em hora me arranca um pedaço(…)/ Hoje o inimigo feliz veio me espreitar(…)Mas eu não quebro não / Por que sou macio”.

Ora, afora a melodia, típica dele (e que nos conforta pelo sentimento de reencontro) é certo que essa não é, definitivamente, uma canção de amor. Chico não fala do amor romântico ou da mulher amada. Chico elabora sobre a angústia da existência, e faz poesia sobre a necessidade de um refúgio: os deuses. Ou a deusa cristã: Maria. Ou, ainda, qualquer Santa. Alguém que, para além de nosso cotidiano imediato, possamos amar sem intenções, digamos, mais primárias e objetivas. Ou como diriam os homens - nossos homens – intimamente: sem primeiras intenções.

Evidente que amar uma mulher sem orifício – em se tratando de transcendência – é o mesmo que amar um homem sem falo, não?

Ou alguém cogita rezar com um dos olhos sorrateiramente aberto para especular sobre a virilidade da imagem estatuada de Jesus?

Me poupem.

Quanto à rima, a que os homens cheios de Viagra e as mulheres cheias de mágoas se prendem, como se o destino de tudo fosse cair no mesmo buraco, um alerta: Chico continua o mesmo.

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem, manhã parece carece de esperar também, para o bem de quem tem, bem de quem não tem vintém, é rima fácil? A princípio sim: pedreiro/penseiro; trem/também; carece/parece; bem/quem/tem/vintém.

Fácil para ele, cara pálida, que possui intencionalidade lírica, e jamais pensaria em soluções simplórias, apenas para finalizar um verso inacabado. Fácil para ele, que dá sentido às palavras – simples ou inusitadas. E as transforma em poesia.

Mas para o Chico, difícil mesmo, impossível até, é afagar o ego de gente que possui economia de senso estético. Para essa gente, seria mais coerente ele dizer, por exemplo, que o sacrifício seria amar uma mulher difícil, ou que pulou do edifício, ou que perdeu o dentifrício, ou que provocou um genocídio.

É gente que pensa – desculpem a rima – por um só orifício.

É certo que tudo o que é novo causa estranhamento. É preciso ouvir mais de uma vez, até que nossos ouvidos (orifícios auriculares) se acostumem; e nossos sentidos de harmonia creditem todas as sensações que pulsam; e nosso corpo sinta a obra que se expõe.

Isso se dá no cinema, no teatro, na ópera, no balé, no livro que iniciamos, na música que ouvimos, no circo. Até o quadro, que já vem pronto, não pode ser apreciado entre intervalos: ele necessita de tempo.

Portanto, não me venham dizer que o Chico perdeu a rima. Chico acaba sempre se impregnando na nossa memória, e fica na gente recorrentemente marcado como uma tatuagem.

Caso contrário, eu vou começar a questionar seriamente “esse coqueiro que dá coco”.

P.S.: onde eu também amarro minha rede, nas noites claras de luar.